quarta-feira, 19 de outubro de 2011



Os homens derretidos, homens que gotejam. Homens-poças. Homens e mulheres em pingos, de braços escorridos, pernas alongadas de calor, de suor, ou de degelo. Homens-rastros, homens e mulheres que se perdem no caminho. Mas criam formas novas e livres, formas lindas e macias. Homens que caminham e perdem as arestas no caminhar. Tudo vai depender do seu ponto de vista. Homens de pequenas cabeças redondinhas ou pingadas ao lado do corpo mole, de membros disformes e retorcidos. Homens e mulheres deformados da forma exata de homens e mulheres, mas homens e mulheres formados de si e de seu penoso ou caloroso caminhar. Caminhemos, homens, tornemo-nos homens gotejantes. Homens e mulheres que gotejam, como nas minas. Minais, homens.

terça-feira, 13 de setembro de 2011



deito na cama e vejo o teto, que do teto eu vejo o infinito do ponto preto no teto e do arranhado na parede. o mundo de possibilidades da linha que se desfaz no edredon e da cor da renda misturada na cortina velha. o pensamento se faz assim, de pingo em pingo, de pingadinho em pingadinho. do nada, que é no nada que se tem a força da natureza muito própria de você. no nada é que esvazia o lixo e se chega na vontade. eu quero o meu ócio que me dá vida pros meus olhos e me lambe a testa, eu quero a testa querendo essa lambida. eu quero pensar no que meu pensamento quer, ele é que manda em mim. eu tô de saco cheio desse trabalho de merda que eu tenho e isso aqui virou meu desabafo com todas as letras. que caralho que nao me deixa pensar no que eu quero pensar, meus devaneios são o que mais importam pra mim, vocês não percebem, ô careca ? que porra eu to fazendo usando minha lingua pra lamber a sua testa ? você nunca viu que embaixo desse teclado sempre tem meu papelzinho com uma linha escrita, que seja, de devaneio ? com um rabisco qualquer de expressão ? eu tô gritando por dentro, mas vc me cala com essas notas azuis. e eu vou continuar lambendo a sua testa até quando, e escondendo meu papelzinho embaixo do teclado ? eu quero é ir embora, eu quero é dar o fora com meus devaneios, mas preciso sempre devaneiar, que é a minha natureza muito própria de mim.


ô júlia, ta acordada ?



não, já tô dormindo.



ué, falando ?



eu durmo assim.



...



ô amalinha, você não vai dormir ?



zzz



ô amalinha ?



hm.. .. pq me acordou..



ah, achei que você dormia que nem eu.

quarta-feira, 27 de julho de 2011



do corpo em cores e versos






e agora eu converso com meus cabelos brancos. eles são novos mas de tudo sabem. e eu que não sabia.. estou sabendo em branco.



se me rasgar ao meio, de dentro de mim vai pular um pintinho amarelinho meio cambaleante e se esconder atrás das suas pernas. aí sim a gente senta e conversa.



eu não solto meu cabelo e amarro minhas idéias. parece que não tem ligação, mas saiba que tem. eu bem sei disso agora, de cabelo solto. até os brancos eu deixei voar. voa aí, passarinho.



eu risco minhas pernas risco risco risco riiiiisco e rabisco, eu nao sei bem porque, mas isso me dá um prazer de descoberta. Um prazer de exploração, infantil. todas as minhas pernas cobertas de tinta e eu por baixo de tudo isso.



e é roendo minhas unhas vermelhas que destroço conclusões enroladas armadas nos fios dos meus cabelos presos e amarradas inertes nas pernas pintadas. e é roendo essas unhas que solto os cabelos brancos e os passarinhos voam livremente.



é o corpo todo junto que nada faz ou tudo anda tudo corre e percorre o próprio corpo meu.



terça-feira, 7 de junho de 2011




O vento vem derrubando a rua arrastando sacos remexendo lixo assustando gente o vento vem sacudindo as saias levantando cabelos arregalando olhos apertando abraços o vento vem apressando pernas alargando passos entupindo ruas espatifando copos derramando pressa mas é só o vento o vento apressado fechando janelas levantando poeira distribuindo papéis açoitando corpos zumbindo nos ouvidos correndo nas calçadas mas é só o vento é velho resmungando querendo passar passar pra onde se é só o vento se é o senhor do movimento meu senhor eu não lamento me leva vento

segunda-feira, 6 de junho de 2011




Só vim saudar a saudade dos tempos coloridos e fumegantes com cheiro de doce.


O caracol se enrolou e aceitou seu próprio rolo. Fez da sua vida um enrolão e da sua casa uma enrolada. Fez seu corpinho enroladinho e seu rabinho espichadinho. O caracol é apegado, parece tranquilo porque anda devagar, mas anda devagar porque é apegado. Se apegou no seu rololô que não soltou mais. Não quis desembolar e leva seu rocambole pra tudo que é canto. O caracolzinho, eu gosto tanto dele. Pra mim é belo, que nem a borboleta, só que de asas enroladinhas.

domingo, 8 de maio de 2011



me cansei das pompas e me cansei das galas. nunca gostei de paetê e nunca gostei de plumas. eu gosto da palavra seca, da emoção limpa. sem rodeios e floreios, a leveza é natural e o que é leve me eleva. é tão bonito daqui, vem cá ver. aproveita e senta no chão, eu gosto do que é bom.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

a certeza vem de dentro pra fora, não de fora pra dentro. quem fala com muita propriedade tem alguma coisa a esconder. eu não confio não, joão.
a certeza vem de dentro pra fora, não de fora pra dentro. quem fala com muita propriedade tem alguma coisa a esconder. eu não confio não, joão.

quarta-feira, 6 de abril de 2011



Todo mundo no casulo acasalando. Somos todos bichos.

terça-feira, 5 de abril de 2011


Se eu apertar os olhos com força, vejo um urso.

Uma raposa

Um mangá

Um coelho

Um relógio

Uma máscara

Eu vou vendo muitas coisas.

Que nem as gotas no box do banheiro.

Eu vou vendo muitas coisas.

Sem parar.

E me assusto, porque nunca acho que as imagens são em vão.

Como o coração congelado.

Eu não paro de ver coisas, eu não paro de fazer associações.

Eu não paro de observar,

eu não paro

eu não paro

eu não paro

eiu nao paro

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quarta-feira, 30 de março de 2011


Ontem eu vi o céu de azul ficar branco. E de branco, ficar lilás. De lilás, eu vi alaranjar. E vi vermelho. Eu juro que vi verde. E vi cinza, e vi marrom, e vi preto, e vi azulão, e fiquei vendo um monte de cor, um monte de céu. Passei o dia vendo o céu e o céu passou o dia me mostrando as cores. Passei a noite também, e dormi com a cabeça virada pra janela. Pro céu me ver e me dar sonhos coloridos.

domingo, 13 de março de 2011



me queira de longe, que me basta. uma vez que não te quero perto, o que não é o mesmo que não te querer. me queira de bobeira, que me basta. me queira mal, será bom também. me detenha de alguma forma, me basta o pensamento. não me sufoque nem me ame, que isso é entorpecente e minha vida tá uma caretice só. minha sobriedade transpassou o limite do invisível e é ela que me carrega agora. mas não quero falar disso, quero falar do seu querer. me queira de alguma maneira, me queira longe, me queira com raiva, me queira detestar. eu preciso acreditar que de alguma forma existe um querer, que isso mantém o meu querer vivo. e o meu querer é a minha impulsão de paixão pra qualquer coisa. eu só me movo apaixonada, e pouco importa se a paixão é insustentada ou se só é meio inventada. me deseje viva ou morte, mas seu desejo mantém o meu desejo de mudança ou de andança. eu sou movida pelo desejo, pelo meu desejo do seu.

quarta-feira, 9 de março de 2011


estou de dentro pra fora, desatino a expulsar. de mim, a quem ? sem destinatário.
desandou a sair, a ir, a cair, a espirrar, a expelir, de mim, a quem ? ao ar, à água, a quem quer que seja e passe por mim. sai de mim, vai pra lá. não cabe aqui, cabe em que ? de inchado, comprime e vaza, estoura, esparrama. dos olhos tão cheios, dos pulmões tão cheios, do nariz tão cheio, da pele tão cheia, sai. sem que eu queira, mas sem que eu não queira, eu não opino aqui. estou gripada demais pra continuar.

a cor que queima a cara, qualé a cor que queima a tua cara ?

a cor que me queima nas bochechas e me torra o nariz é o vermelho, que me agride.

ele me manda ir, logo eu que fico na dúvida. ele me empurra, logo eu, que travo. ele me faz sangrar, logo eu... logo eu o que?

eu sempre devo usar uma coisa vermelha, e é por isso que assim faço. pra não me esquecer que minha cara tá fogueada, ou afogueada, que seja.

mas a cor que eu invejo é o azul. quando eu resolver minha questão vermelha, eu pego no ponto azul. mas ele ainda tá bem frio e distante de mim.

um sorriso amarelo pra vocês, e um olhar marrom.

sábado, 12 de fevereiro de 2011


Me extraviei, eu sempre faço isso. Passo a vida atrás de mim, me pego pelos cantos, me encontro nas esquinas, me perco nas encruzilhadas. Me esbarro, me esfolo no tropeção. Me acho e me afago, me aperto e me beijo. Mas aí eu me sumo, eu me fujo, eu vou embora daqui. E fico assim, a minha procura, a ver navios, ao leu. Olhando pro ontem, visitando aquela sombra, e reconhecendo o próximo vulto adiante. Sou eu! Digo pra mim. Corra, que me achas! E então me pulo, me levo, lá vamos nós outra vez. Felizes e radiantes, de mãos dadas, que maravilha. Basta um vento mais forte e meus dedos desenlaçam dos meus. Saio flutuando que nem um papel velho e bobo. Tento me seguir, mas tenho fotofobia. Não me apresso mais. Me acharei em algum banco, à minha espera novamente. E vamos em frente, sozinha ou comigo, que é pra lá que a gente sempre vai. Eu prefiro mesmo estar em minha companhia.


o olhinho dele é tão miúdo que não me deixa ver o que se passa por dentro. eu to de olho grande nesse olho tão pequeno. minha boca é pequena mas eu quero engolir a boca enorme dele. a gente fala em outra lingua, mas eu quero minha lingua na dele. a gente respira outros ares, mas eu quero ele respirando no meu nariz. ele é o que eu vejo em poeira que brilha. e pra piorar, ele não se materializa pra mim e eu insisto em tocar um holograma.

sábado, 5 de fevereiro de 2011


ô criança no ventre, tua sorte é nascer por dentro, senão eu te arrancava de lá com os dentes. ô criança burra, foge enquanto é tempo. dá teu jeito e vai-te embora. saia pela culatra, saia pela boca, mas se esqueça de nascer. eu te conto o que veria, e imaginar pra quem nunca viu, basta. eu te falo o que ouviria, e nunca mais saberá o barulho do som. eu te explico o vento, que você vai até aprender a ventar. mas ô criancinha... vire pó ou evapore por aí. evapore, porra! fica no teu canto quente e se finja de fingimento. cá fora nesse canto febril já tem criança demais, e o que é demais parece mal. já tem criança sobrando demais. criança repetida demais. criança que não vale a pena. criança que se soubesse como, evaporaria. e quando você evaporar, vem me dizer como faz. ô meu deus...

domingo, 16 de janeiro de 2011

todo mundo é um grande vampiro, que quer sugar o que tem de bom. quer sugar no beijo, quer sugar no olhar, o vampirismo é nosso amigo. todo mundo tem cobiça, e a cobiça é um desejo vampiresco. instala os dentes na sua presa e manda ver, até o fim do que ela puder oferecer. não te digo vampiro nato, te digo vampiro escolado. já sabes o que busca e já tem orientador. a gente deveria criar mais do que sugar, pra ficar com um aspecto mais saudável.

sábado, 8 de janeiro de 2011


Passeando, passeou um pombo no meu lado, e pulando, pulou do meio fio pro gramado. Tive gana de ter um pombo, bem aconchegado em mim, criar o pombo na gaiola, oferecer uma comida e apertar seu corpo gordo. Mas logo eu, que até então batia forte com o pé no chão pra espantar esses rapazes do meu caminho. Logo o pombo, que nunca mexeu com a minha doçura. Agora eu quero um pombo na janela, quero um pombo na minha cama. Quero uma vida vagabunda a meu dispor, quero me dispor à uma vida vagabunda. Alguma coisa capaz de andar sozinha ao meu redor, um objeto vivo, um capricho, um egoísmo, um achismo, um ridicularismo, uma grande palhaçada, uma estupidez, uma mesquinhez, um pão francês, um rebuçado, um namorado.