terça-feira, 19 de maio de 2015


se eu estiver reticente, por favor não me pontue
se eu estiver exclamativa, por favor não me virgule
se eu estiver herrada, por favor não mi corrija
me deixa que eu me escrevo, me pontuo e me releio. ou me dobro no meio e me jogo no mar.
só me deixa ser, sem intervenções.

Tô de zumbi, tô de zureta, tô de vovó. Tô de bocó. Não entendo nada, não participo do jogo, não acompanhei o tre-lelê. Cadê ? cadê o amor, meu povo... amor, amor. as relações não são de plástico, tampouco nossos corpos. Nós não somos copo. Não entendo esse descarte.
Tô fora da brincadeira, tô de altos, tô de estátua. Virei café com leite.


eu tenho um bebê e o que é meu está guardado,


meu bebê que não me vê, eu não sei o que vc quer ser quando crescer.


meu bebê não tem nome, só sobrenome


o que será que vc come ?


eu não sei cuidar de um bebê


eu não sei como o bebê faz pra nascer


eu nem quero saber.

_____

agora eu tenho um menino,
meu lindo Gabriel. Ganhou nome e sonhos, estes meus.
Gabriel come mel, feijão, semente de girassol, damasco e bala de gengibre
a gente dança, a gente zanga, a gente corre na pracinha, desenha monstro grandão, monta fazendinha, brinca de cavalo doido, conta história do moço sujo, se suja na terra, vê desenho colorido...
a gente vive
agora eu sei como um bebê faz pra nascer.



é só fumaça
ou tá nublado
meu tempo passa
com a mary do lado

hey hey
hey hey mary jane
hey hey
hey hey mary jane

não se condena o que não se conhece
e por favor, amigo, não se apresse
é com a mente aberta que se cresce

hey hey
hey hey mary jane
hey hey
hey hey mary jane

deixa nascer no peito de verdade
um sentimento de sincera liberdade
e só assim se pode entender
o que a mary te dá olhos para ver

hey hey
hey hey mary jane
hey hey
hey hey mary jane

a marola rola
no ar a marola
no mar a marola
amar a marola

mary jane
mary jane
mary jane

A faca entrou confiante naquela pele dura, resistente. E depois do primeiro furo, vem o rasgo deslizante da faca, cavando um sulco profundo na minha cara sorridente.
Escorria seu sumo na mesa, manchando a toalha, minhas mãos e minha mente. Me sentia criminosa agora. O medo do que eu posso ser capaz de fazer tomou conta de mim. Se nem eu sei meus limites, como posso estar segura comigo ? Me sentia louca e ofegante. Com a faca na mão, furando a laranja com aquele prazer sádico, que poderia eu então fazer num lapso de consciência? Talvez eu não fizesse distinção ao substituir a laranja por qualquer outro corpo. Talvez o significado do sumo da fruta se igualasse ao significado do sangue. Talvez eu seja uma psicopata. Talvez pro mundo vegetal eu seja uma alucinada psicótica.
Me perdoem, laranjas.