quarta-feira, 24 de junho de 2015

carrego comigo uma tensão de movimentos, principalmente no movimento. no corpo algo não encaixa bem e não há um movimento coeso, redondo, de acordo.. não há o relaxar. há a tensão. o encontrão, esbarrão e espasmo. o não movimento enrijege a engrenagem e emperra as roldanas.
despejo em você como um despejo, sem gracejo nem beijo, uma condição de saturação minha. de não alcançar a posição privilegiada dos seus olhos. nessa ânsia me torno vã e vilã. te fuço o lixo e me contento com pequenos ossos. isso é hematoma que não sai. virou impressão dolorida, estar ou não na sua vida.
me vejo envelhecer por não arriscar a vida. por não ter força de arriscar a minha vida. me vejo de cabelo preso, com roupas velhas e ideias encriquilhadas como artrose. minha vivacidade tá com osteoporose. não sei mais me alimentar. já não sei qual meu alimento vital. meu olhar tá com catarata e meus olhos estão de óculos. meu andar tá com artrite. minhas ideias estão esclerosadas. meu bom humor tá demente. virei viúva de mim. socorro, nossa senhora das senhorinhas. vem me ajudar !
o que acontece é que então esmaeço, me diluo no seu temporal e fico insosa. meu doce se perde na enxurrada que é a sua cara de cu enfiando a cara dentro da minha, com essa testa cheia de espinha.
me acabrunho e viro pra dentro. fico de perna torta enroscada no tronco. não me assombro, porque tô forte. e nem é sorte.
de pedrinhas a fitinhas e de beijos a figuras
de filmes a músicas e de fotos a livros
de palavras a cheiros e de cores a pessoas
de bilhetes a poemas e de flores a dores
coleciono o que me encanta e me preenche,
o que me dá contorno e forma.
onde estão meus pedacinhos,
por favor me fala agora.
se é assim estou livre, presa a você. ser pra você me soa infinito e infinitamente melhor que o não. pão com requeijão, manhã, tarde e noite. meu cardápio variado.
o que fica é sempre pozinho no fundo, sedimentos, caquinhos, açúcar que não vai mais misturar.
e respingo, que é pingo que não pinga mais.
Avó, meu coração vai estar pra sempre junto do teu. Saudades muitas e de tudo debom que você representa.
Meu acalanto, meu canto e minha dança de felicidade.
Meu abraço gordinho, meu cheirinho de velhinha doce, meus conselhos sábios. Te penso o tempo que houver para mim. Te desejo o que de melhor existir.
Sinto você aqui dentro demim com seu sorriso mais lindo.
Esteja feliz e então estarei bem.
E a energia desse encontro vai gerar ainda mais luz.
Te amo, avó.
Você quer um pombo manso te rodeando, pra quando restarem migalhes você ter a quem dispensar. Compra uma vassoura e ponha-te a trabalhar. É mais digno e vem a ser menos custoso. Cocô de pombo pode até manchar as barbas da tua calça.
Não que eu seja triste
Mas gosto de ver os barquinhos no mar em dia chuvoso
Eles também gostam de lá estar, que eu sei
É dia de folga
É dia de descanso
E para celebrar, dançam juntos a dança dos guerreiros do mar
Da força bruta
Do trabalho pesado
Assim como faziam os escravos com suas canções
Um misto de alegria e melancolia,
que falta palavra que denomine esse sentimento
E borram o mar cinza chumbo de amarelo, vermelho, azul com sua dança cadenciada...
e viram paisagem quando o horizonte some na chuva.
Não que eu seja triste
Mas gosto de ver essa tristeza aguada e salgada.

terça-feira, 19 de maio de 2015


se eu estiver reticente, por favor não me pontue
se eu estiver exclamativa, por favor não me virgule
se eu estiver herrada, por favor não mi corrija
me deixa que eu me escrevo, me pontuo e me releio. ou me dobro no meio e me jogo no mar.
só me deixa ser, sem intervenções.

Tô de zumbi, tô de zureta, tô de vovó. Tô de bocó. Não entendo nada, não participo do jogo, não acompanhei o tre-lelê. Cadê ? cadê o amor, meu povo... amor, amor. as relações não são de plástico, tampouco nossos corpos. Nós não somos copo. Não entendo esse descarte.
Tô fora da brincadeira, tô de altos, tô de estátua. Virei café com leite.


eu tenho um bebê e o que é meu está guardado,


meu bebê que não me vê, eu não sei o que vc quer ser quando crescer.


meu bebê não tem nome, só sobrenome


o que será que vc come ?


eu não sei cuidar de um bebê


eu não sei como o bebê faz pra nascer


eu nem quero saber.

_____

agora eu tenho um menino,
meu lindo Gabriel. Ganhou nome e sonhos, estes meus.
Gabriel come mel, feijão, semente de girassol, damasco e bala de gengibre
a gente dança, a gente zanga, a gente corre na pracinha, desenha monstro grandão, monta fazendinha, brinca de cavalo doido, conta história do moço sujo, se suja na terra, vê desenho colorido...
a gente vive
agora eu sei como um bebê faz pra nascer.



é só fumaça
ou tá nublado
meu tempo passa
com a mary do lado

hey hey
hey hey mary jane
hey hey
hey hey mary jane

não se condena o que não se conhece
e por favor, amigo, não se apresse
é com a mente aberta que se cresce

hey hey
hey hey mary jane
hey hey
hey hey mary jane

deixa nascer no peito de verdade
um sentimento de sincera liberdade
e só assim se pode entender
o que a mary te dá olhos para ver

hey hey
hey hey mary jane
hey hey
hey hey mary jane

a marola rola
no ar a marola
no mar a marola
amar a marola

mary jane
mary jane
mary jane

A faca entrou confiante naquela pele dura, resistente. E depois do primeiro furo, vem o rasgo deslizante da faca, cavando um sulco profundo na minha cara sorridente.
Escorria seu sumo na mesa, manchando a toalha, minhas mãos e minha mente. Me sentia criminosa agora. O medo do que eu posso ser capaz de fazer tomou conta de mim. Se nem eu sei meus limites, como posso estar segura comigo ? Me sentia louca e ofegante. Com a faca na mão, furando a laranja com aquele prazer sádico, que poderia eu então fazer num lapso de consciência? Talvez eu não fizesse distinção ao substituir a laranja por qualquer outro corpo. Talvez o significado do sumo da fruta se igualasse ao significado do sangue. Talvez eu seja uma psicopata. Talvez pro mundo vegetal eu seja uma alucinada psicótica.
Me perdoem, laranjas.