sábado, 30 de janeiro de 2010


Sua pele sempre vistosa, suas unhas sempre aparadas, sua fala sempre acertiva, seu timbre sempre equilibrado. Seus cabelos sempre arrumados, sua escrita sempre correta, seu perfume sempre suave, suas roupas sempre passadas. Seu olhar sempre macio, sua vida sempre tranquila, suas frases sempre otimistas, seus sapatos sempre conservados. Seus dentes sempre brancos, seus gestos sempre polidos, suas orelhas sempre limpas, seu dinheiro sempre novo. Seus pelos sempre domados, seus poros sempre fechados, seu suvaco sempre seco, seu botão sempre pregado.
Essa polidez que não convence, que de tão certa, mente. Me embola uma azia e vomito um emaranhado insosso. Que de tanto sem, vira muito. A preocupação com o perfeito é que vira desleixo. Não poder adoecer é que vira doença. Essa beleza dura eu não engulo. A falta de ritmo também compõe o natural. Muitas vezes o fosco realça, enquanto o brilho reflete na retina e o que vejo, cega. Não me venha com passinhos prontos, se o descompasso você não domina. Não me venha, apenas, que eu não me vou, apenas.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010


uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
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uma hora eu explodo
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uma hora eu explodo
uma hora eu explodo
uma hora eu explodo

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Levar um soco na cara e ficar com um olho roxo é uma boa maneira de enxergar a vida mais colorida.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010


Todos os minutos foram quebrados junto com o frasco. Todos os minutos de espera se estilhaçaram junto. Tric tric trac trec, pedacinhos de vidro caídos e pedacinhos de cheiro subidos. Súbitos. O cheiro que ganhar o ar, se dissipa, se espalha, se infiltra. Enfim foi. Foge. Rebela-se. O cheiro molhado no chão, se esvazia no ar. Para sempre. De solto, se perde. Ele vai, e eu fico. Vive só e eu choro. Eu só sem cheiro. O cheiro no mundo se esvai e se extingue. Eu sem cheiro abro as narinas da prisão, mas ele tão levinho, transpassa meus pelos, meus poros e voa. Não aceno porque dói ter que vê-lo indo no invisível. Mas sinto na fraqueza crescente do cheiro que já não sinto a força de derreter na vida. Fusão. Eu não. Me leva. Quero ser cheiro. Que entra, que sai, que vai, que some. Sumir existir.

Fato: na prateleira havia um frasco de perfume. O antebraço toca a tampa. Balanceia. Esperneia. E quebra. O perfume vai embora. Não existe outra interpretação pro escrito. Perfume, cheiro e ar. Não existem pernas no perfume nem braços no ar. Não existe metáfora nessas letras e todos os is estão pingados.

domingo, 10 de janeiro de 2010


Um casal no cinema. Trailer. Escurinho, carinho, cheirinho, beijinho. Ela amolece, ele esquenta. Ela mole. Ele queima. Desgruda da cadeira, brusco. Aproxima-se do rosto dela, abre a boca e finca os dentes. Crava na bochecha. Ela grita, ele geme. Ela olhos esbugalhados, ele olhos fechados. Ela grita, ela sangra, ele queima, ele crava. Ela esmurra, ele goza. Ela empurra e pula da cadeira. Corre pelo corredor escuro, tropeça e some. Ele fica. Seca o sangue, ele lambe. Amolece. Reclina-se, recosta-se. Ele sua. Fim. Começa o filme.

sábado, 9 de janeiro de 2010


Se solta, cai
Se cai, quebra
Se pinga, mancha
Se puxa, rasga
Se corta, sangra
Se sopra, some
Se aperta, pula.

Se não corta, cresce
Se não lava, suja
Se não seca, mofa
Se não molha, seca
Se não anda, para
Se não para, quebra
Se não apaga, queima.

O caos-equilibrista na corda tensionada. Na superfície é que se vive, burlando a lei do caos. Desrespeitando o ritmo, desrespeitando a vida em estado bruto. Inventando outra verdade, vivendo em paralelo. Que a corda não arrebente. Que o caos-equilibrista não caia. Que a verdade lapidada seja eterna. Amém.

domingo, 3 de janeiro de 2010



Fiquei aguada, de tanta água. Encharcou minhas roupas e eu. Lavou minha pele e levou meu sal.
Fiquei de molho. Enrrugou meus dedos e testa. Penetrou minha capa e deixou aguado meu sangue.
Fiquei fria. Lambeu meus cabelos, chorou meus cílios, lavou meu olho e me engoliu a boca. Me transbordou e eu afoguei.

Pingou em mim, escorreu minha cor. Desceu rosa-bordô-preto, nariz-queixo-quadril e splash na água corrente. Desceu amarelo-oliva-preto, orelha-ombro-barriga e ping na água levada. Fiquei misturada, fiquei monocor, fiquei pastel. Eu de pintura, virei papel. Limpo, molhado e boiado. Seguindo na água aguada e corrente, pra onde deus quis.