sábado, 7 de fevereiro de 2009


Meus dentes caíam mais do que o possível. Eu os juntava no abraço, como que para confortá-los por ainda estarem no meu corpo; em outra parte do meu corpo. Eram tantos... Iam se espalhando pelo asfalto, se partindo... Cada um tomava um rumo diferente, ia seguir a sua vida, mas meus braços continuavam pesados de dentes e minha boca sentia as quedas, uma por uma. Eu trancava a boca pra não deixar mais eles saírem, e enfim, mantê-la cheia de dentes. Cheia de dentes soltos, perdidos no céu da boca, boiando na saliva. Não me serviriam mais. Eu já não podia falar, já não podia rir, mas guardava aqueles pedaços de osso por medo de expulsá-los e me ver friamente desdentada. Os dentes já estavam a ponto de me sufocar, quando então, finalmente assumi minha condição de desdentada e cuspi-os. Um a um. Um parto de dentes mortos. Cada um que eu paria, eu sentia a dor na carne, eu vivia a perda. E assim, cuspi todos. Meus braços se enovelaram de dentes e meus olhos penderam para baixo, adotando o formato vivo de uma lágrima. Não chorei. Me vi. E vi que havia perdido apenas os dentes, e nada mais em mim. Continuava bonita à minha maneira e aos meus olhos, que são os olhos da minha verdade. Abri os braços e larguei aquela infinidade de dentes pelo chão, pelo ar, criei um mundo de dentes mortos, mas dei uma vida a cada um. Foi então que me surpreendi. Senti minha boca apertar. E lá estavam eles novamente... Só que dessa vez, inacreditavelmente brancos e lisos. Meus dentes vivos.

Um comentário:

alexandre colchete disse...

espetacular

tu tens um belo sorriso, mesmo de lábios fechados. que crie agora a certeza de que eles vão sempre estar aí pois, o que é de ti, ninguém pode arrancar ou fazer cair.