segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009


A árvore


Era uma vez ela. Era duas ou três vezes ela, não importa quantas vezes fosse, era sempre aquilo. Ansiosa a esperar. Esperava passar o que queria ver. E enquanto isso, via de tudo. Via elefantes, mas achava-os feios. Via a chuva, e acabava se molhando. Via o medo, e acabava por senti-lo. E via de tudo um pouco, menos do que queria. Mas ela ali ficava, não ousava se levantar. E foi ficando por ali, por todos os dias da sua vida. Sentada na terra, esperava passar o que queria ver. Ia passando o sol, ia passando a chuva, ia passando a lua e ia passando o sol. Ela permanecia sentada. Já quase não se movia mais, te tão compenetrada que ficava, esperando pra ver a vida passar. Já não levantava, pois podia levantar justamente no momento em que passaria o que ela esperava ver. Suas perninhas foram se enterrando cada vez mais na terra. Seu corpinho foi se tornando cada vez mais rijo. Desaprendeu a falar, já que só sabia esperar. Desaprendeu a andar, já que só sabia esperar pra ver. E assim ganhou folhas, caule e raízes e transformou-se numa bela árvore sem frutos. Viu cometas, viu amores, viu leões e viu cordeiros. Passou de tudo um pouco por ali, menos o que ela tanto esperou pra ver.

Fim.

Um comentário:

Deborah B. disse...

Considero qualquer analogia mera coinscidência.