quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010





Contato , pra mim, só com tato.

Vocês, meus amigos, com esses cheiros de pele velha, estão arranhando meu nariz. Com esse grude de pele de sapo, estão urticando meus braços. Eu fico imaginando a vida dessa mulher com esse cheiro de boca amarga e essas mãos encardidas. Eu sou obrigada a imaginar, tamanha a proximidade do nariz dela da minha orelha. A vida desse homem que mais meia hora ele se liquefaz por inteiro aos meus pés, tantas são as gotas acinzentadas que escorrem pelas suas curvas obesas. Eu sou obrigada a imaginar, tamanha a proximidade do braço dele da minha barriga. Essa garota, com esse esmalte verde descascado e essas costelas pontiagudas. Eu sou obrigada a imaginar, tamanha a proximadade do cotovelo dela do meu peito. Eu fico imaginando a vida de todos que eu não queria imaginar, e isso me asfixia mais que a falta de ar por tantas narinas buscando seu lugar ao sol. Nós viramos uma bola de pelos variados e cheiros variados. Se eu fosse uma giganta veria um só ser disforme, fétido e burro. Um caldeirão de pernas, dedos e línguas. Mas por favor, me escute, eu não sou um membro desse minhocão fedido. Pelo menos eu não quero ser. Não me cheirem, não me toquem. Antes de virar sopa, eu desço em Botafogo. Ôdor.

Um comentário:

Bruno Cava disse...

Que angústia, Cor de Avelã. Eu consegui inverter a sensação. Atravessar a Rio Branco de ponta a ponta em pleno Bola-Preta, no sábado de carnaval. Sentir o suor, a seiva, o mijo, encharcar-se dos cem fluidos de mil homens e mulheres. Sujo? Religioso: primeira comunhão. O Rio de Janeiro é uma cidade em putrefação, um esgoto de fel e sêmen e sangue, pronto para inundar as ruas e lavar o vício e o purgatório dos dez milhões cariocas.