sábado, 30 de janeiro de 2010


Sua pele sempre vistosa, suas unhas sempre aparadas, sua fala sempre acertiva, seu timbre sempre equilibrado. Seus cabelos sempre arrumados, sua escrita sempre correta, seu perfume sempre suave, suas roupas sempre passadas. Seu olhar sempre macio, sua vida sempre tranquila, suas frases sempre otimistas, seus sapatos sempre conservados. Seus dentes sempre brancos, seus gestos sempre polidos, suas orelhas sempre limpas, seu dinheiro sempre novo. Seus pelos sempre domados, seus poros sempre fechados, seu suvaco sempre seco, seu botão sempre pregado.
Essa polidez que não convence, que de tão certa, mente. Me embola uma azia e vomito um emaranhado insosso. Que de tanto sem, vira muito. A preocupação com o perfeito é que vira desleixo. Não poder adoecer é que vira doença. Essa beleza dura eu não engulo. A falta de ritmo também compõe o natural. Muitas vezes o fosco realça, enquanto o brilho reflete na retina e o que vejo, cega. Não me venha com passinhos prontos, se o descompasso você não domina. Não me venha, apenas, que eu não me vou, apenas.

2 comentários:

fao Carreira disse...

sem falar dos sorrisos aerobicos....

Unknown disse...

Gostei dos textos que li, encontrei em vários uma poética bastante erótica, mas de um erotismo... como diria... ácido? Comer, lamber, morder, te amar-me em meus dentes... (Marciano Lopes)