sábado, 6 de março de 2010


A sombra é contorno e conteúdo simultaneamente e na mesma escala. Não leva a cor do objeto que a projeta, nem é fiel ao tamanho. Não briga com seus próprios componentes. A sombra é o lado respeitável do objeto, livre de vaidades. Denota sua existência sem exibição. Demarca seu espaço, mas aceita interferências de outras sombras. A sombra permite fusão. Mistura-se às suas semelhantes e se permite viver uma nova existência em grupo. É possível criar um grupo de sombras que se reconheça como uma única sombra, por uma alusão à um ícone pré concebido, por exemplo. A sombra se liberta do esteriótipo e escorrega pelo chão, alonga ou encurta a silhueta, quase que por vontade própria. A sombra é capaz de se insinuar, ou de fazer graça. É capaz de provocar um mistério ou de trazer uma densidade à cena, sem que o objeto em questão se transforme. A sombra é a graça da luz e eu ousaria pensar que é a graça do ser também. Tudo às claras não me comove. A sombra é a parte sensível, a parte sensual. Parece transmitir a emoção do momento. Sombras afiladas, sombras inquietas, sombras curiosas, sombras grossas, sombras embaçadas, sombras sombragem sombrisso sombreiro sombraria sombrólio sombrão sombrinha. A sombra é a mancha preta que percebemos mesmo de olhos fechados. A sombra é sensual até no nome. Sombra. Talvez seja a parte mais sensual de muitos e muitas. Muitas coisas sombreadas, muitas coisas assombradas.

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