quarta-feira, 5 de novembro de 2008


Tem alguma coisa errada. Não sei bem o que é, mas tem. E é com a gente. Com a gente que anda por aí. Não enxergam nada. Têm olhos porque é conveniente enxergar, senão arrancariam pra carregar menos peso ao andar. Andam porque têm que chegar a algum lugar, senão não ousariam levantar. Parece que levam uma névoa em torno do corpo. Talvez sejam embaçados mesmo. Um borrão. Vários borrões, uns maiores, outros menores, pretos, brancos e coloridos. Borrões enfeitados, badulaques e penduricalhos sacudindo pra lá e pra cá. Não me dizem, não me olham. Ou não se dizem e não se olham. Só sabem falar com a boca e só sabem ler o que está impresso no papel. Não falam com os olhos, não beijam com as mãos, não lêem uma voz, não escutam um sorriso. Inflam seus pulmões e quase voam, de tão cheios. Cheios de informações. Sabem demais. Eu não entendo muito bem o que tanto sabem. Inventaram um monte de coisinha pra ter o que saber e sair por aí de peito estufado e olho embaçado. Parece que todos cantam a mesma música pra dentro, e eu não sei qual é. Pela cadência mórbida que andam e pelos olhos pesados que levam, essa música é um porre dos grandes. Prefiro não saber e continuar procurando pernas desorientadas e olhos vivos no meio desse marzão cinza. E gostando dos cachorros, que têm o que falta na gente. Na gente que se esgueira por aí.

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