segunda-feira, 20 de outubro de 2008



Sentia o rosto rubro. O coração pulava, descompassado. Nas mãos, uma testa e um lápis. Via ali, naquela cena, a nudez da ansiedade. E seria pleonástico dizer que ansiedade não tem cabeça. Valorizava cada tracinho, cada ponto. Nunca soube, desde menina, apenas iniciar as coisas. Seus inícios nunca tiveram a fluidez que as coisas iniciais têm. Sobrecarregava seus primeiros atos a tal ponto que o estalido do novo virava trovão. E sempre tivera medo de trovão, com um grande parcela de culpa destinada à sua avó. Ali, apenas com suas pedras de estimação a espreitar, iniciava o prazer de escrever.
Seu nome não era Amália, mas naquele instante sentia que nenhum outro nome nunca vestira tão bem sua imagem. Valoriza os nomes que considera forte. Amália não seria um nome forte, mas não quer força nesse momento. Quer a mesma delicadeza e sinceridade de Clara, mas sem tanta obviedade, a mesa segurança e pureza de Ana, sem tanta fragilidade. Quer Amália, que pisa firme e direciona o olhar apenas para o que vê. E, acima de tudo, ama. Amá-lo-ia, Amá-la-ia, Amália.

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