sábado, 12 de fevereiro de 2011


Me extraviei, eu sempre faço isso. Passo a vida atrás de mim, me pego pelos cantos, me encontro nas esquinas, me perco nas encruzilhadas. Me esbarro, me esfolo no tropeção. Me acho e me afago, me aperto e me beijo. Mas aí eu me sumo, eu me fujo, eu vou embora daqui. E fico assim, a minha procura, a ver navios, ao leu. Olhando pro ontem, visitando aquela sombra, e reconhecendo o próximo vulto adiante. Sou eu! Digo pra mim. Corra, que me achas! E então me pulo, me levo, lá vamos nós outra vez. Felizes e radiantes, de mãos dadas, que maravilha. Basta um vento mais forte e meus dedos desenlaçam dos meus. Saio flutuando que nem um papel velho e bobo. Tento me seguir, mas tenho fotofobia. Não me apresso mais. Me acharei em algum banco, à minha espera novamente. E vamos em frente, sozinha ou comigo, que é pra lá que a gente sempre vai. Eu prefiro mesmo estar em minha companhia.


o olhinho dele é tão miúdo que não me deixa ver o que se passa por dentro. eu to de olho grande nesse olho tão pequeno. minha boca é pequena mas eu quero engolir a boca enorme dele. a gente fala em outra lingua, mas eu quero minha lingua na dele. a gente respira outros ares, mas eu quero ele respirando no meu nariz. ele é o que eu vejo em poeira que brilha. e pra piorar, ele não se materializa pra mim e eu insisto em tocar um holograma.

sábado, 5 de fevereiro de 2011


ô criança no ventre, tua sorte é nascer por dentro, senão eu te arrancava de lá com os dentes. ô criança burra, foge enquanto é tempo. dá teu jeito e vai-te embora. saia pela culatra, saia pela boca, mas se esqueça de nascer. eu te conto o que veria, e imaginar pra quem nunca viu, basta. eu te falo o que ouviria, e nunca mais saberá o barulho do som. eu te explico o vento, que você vai até aprender a ventar. mas ô criancinha... vire pó ou evapore por aí. evapore, porra! fica no teu canto quente e se finja de fingimento. cá fora nesse canto febril já tem criança demais, e o que é demais parece mal. já tem criança sobrando demais. criança repetida demais. criança que não vale a pena. criança que se soubesse como, evaporaria. e quando você evaporar, vem me dizer como faz. ô meu deus...