domingo, 21 de março de 2010

A bala que estava na boca escorregou pela língua, desceu pela garganta e entalou. Deixou o gosto doce na boca e a dor no peito. A dor do entalo com gosto doce e papel desembrulhado na mão.

sexta-feira, 12 de março de 2010


A sua cara vira máscara e ganha asas, voa pelos meus sonhos quando menos espero. Arranquei meus olhos pra não te ver mais saltar da multidão, com molas nos pés e roupa neon. Não te suporto. Parei de dormir para não mais sonhar, mas então eu divago. E de novo a máscara alada rouba a cena, deixando um rastro de piche. Pula o palhaço da caixinha, e a cara é a mesma. Desaprendi a gostar dessa repetição. Esfacelei qualquer vestígio de presença, só falta a mim mesma. Não te suporto. O que sobrou é muco.

domingo, 7 de março de 2010

a saudade vira raiva no momento em que você percebe a inutilidade dela.

sábado, 6 de março de 2010

Nunca te disseram que o amor tem pernas ?

A sombra é contorno e conteúdo simultaneamente e na mesma escala. Não leva a cor do objeto que a projeta, nem é fiel ao tamanho. Não briga com seus próprios componentes. A sombra é o lado respeitável do objeto, livre de vaidades. Denota sua existência sem exibição. Demarca seu espaço, mas aceita interferências de outras sombras. A sombra permite fusão. Mistura-se às suas semelhantes e se permite viver uma nova existência em grupo. É possível criar um grupo de sombras que se reconheça como uma única sombra, por uma alusão à um ícone pré concebido, por exemplo. A sombra se liberta do esteriótipo e escorrega pelo chão, alonga ou encurta a silhueta, quase que por vontade própria. A sombra é capaz de se insinuar, ou de fazer graça. É capaz de provocar um mistério ou de trazer uma densidade à cena, sem que o objeto em questão se transforme. A sombra é a graça da luz e eu ousaria pensar que é a graça do ser também. Tudo às claras não me comove. A sombra é a parte sensível, a parte sensual. Parece transmitir a emoção do momento. Sombras afiladas, sombras inquietas, sombras curiosas, sombras grossas, sombras embaçadas, sombras sombragem sombrisso sombreiro sombraria sombrólio sombrão sombrinha. A sombra é a mancha preta que percebemos mesmo de olhos fechados. A sombra é sensual até no nome. Sombra. Talvez seja a parte mais sensual de muitos e muitas. Muitas coisas sombreadas, muitas coisas assombradas.