segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O rascunho

Eu quero engolir o que eu vejo, o que eu sinto e o que eu toco, porque eu não quero nem dividir nem explicar. E engolindo, sem mastigar, tudo vira inteiro meu. Eu não me importo com o preto vazio que vai ficar, se minha barriga estiver cheia. Eu não me importo com a falta que vai fazer pra você, aquela paisagem ou aquele cheiro. Se minha barriga está cheia, isso me basta e me alimenta. O que eu vejo é meu, o que eu sinto é meu e o que eu toco é meu. É meu dentro de mim, naquele momento. Na ausência do momento eu perco tudo e isso me dói. Eu não me importo contigo, se a dor é minha. Aqui quem fala é o meu egoísmo, por isso respeite-o. Ele vem antes de mim e é maior que eu.

Recuperado.

domingo, 11 de janeiro de 2009


Lá vem o verão. Ou melhor, lá veio o verão. Esfuziante, claro. Claro. Escaldante, claro. Claro, alvo e eloquente. Mas muito quente. Me pinta de rosa, te pinta de vermelho, pinta e borda. Com a minha cara. Derretendo meu bom humor. Estufando minha cabeça. Expelindo meu sebo e grudando em sebos alheios. Suando esses sorrisos suados e salgando essas rugas na testa. E lá vamos nós, frangos com as vidas escaldadas. Ensopados numa água borbulhante, virando uma canja. Só uma canjinha.. só mais um verãozinho. E é por isso que eu adoro o verão. Ah, o verão...